10.11.14

Kusudama - O discurso se realiza através do cinema

Em oficinas, ao longo dos 11 anos de minha atuação no origami, sempre descrevi a cena imaginária do uso das kusudamas em hospitais no Japão. Na minha cabeça, tratava-se de algo discreto, uma bolinha de cura pequena recheada com ervas amarradinha no espelho da cama, bem próxima à cabeça do paciente.
Já havia visto imagens de kusudamas imensas usadas em aberturas de festivais e campeonatos, que se abriam em chuvas de papéis picados. Mas, essa cena de hospital, eu apenas imaginava.
Convidada a participar do Mercado de Pulgas em comemoração ao centenário de Marguerite Duras na Aliança Francesa do Recife, reservei um tempo para assistir aos filmes baseados nos escritos da autora. E, surpresa, em “Hiroshima, mon amour” (dir. Alain Resnais) estava uma enfermaria toda decorada com kusudamas e tsurus, um circo, uma festa de origamis. Não dá para ver a cor, pois o filme é em preto & branco, mas dá para notar que muitos brilham.
Um filme sobre a paz, que mostra os efeitos nefastos da bomba. Uma cidade a morrer instantânea ou lentamente. Triste de doer.



Mas!
Que felicidade!
Não era viagem minha!
Isso realmente existia!
Quiçá, ainda existe.
Alguém sabe?
Em homenagem ao filme e a esse momento de Marguerite Duras escritora, dobrei uma kusudama branca, a cor do luto oriental, que compus com um dos papéis lindos estampados com minitsurus que Marta Ide me deu. Uma dobrinha pela dor dos que se foram e pela saúde dos que virão.

Na foto, a kusudama Duras em meio aos desenhos lindos de Bárbara Melo



“Ouça. Eu sei. Sei tudo. Isso continua.
As mulheres arriscam-se a ter bebês monstros.
Mas isso continua.
Os homens arriscam-se a ficar estéreis.
Mas isso continua.
A chuva causa medo, a chuva de cinzas nas águas do Pacífico.
As águas do Pacífico matam.
Pescadores morreram.
O alimento causa medo."
Excerto do roteiro de "Hiroshima, mon amour".

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